A presença de Maria na Vida e Reforma de Teresa de Jesus

Ambiente histórico em que Teresa de Jesus experimentará e vivificará a Mariologia da Igreja

Teresa de Ahumada nasceu em tempos difíceis. O avanço da reforma protestante parecia imparável. A fé católica estava em perigo, já que os reformadores decidiam por iniciativa própria, à margem da tradição da Igreja, quais dos sacramentos consideravam válidos, que livros formavam parte do cânon da Bíblia, que formas de vida deviam existir na Igreja…

Os reformadores decidiram também que a Mãe de Jesus só poderia ser considerada exemplo de fé para os cristãos, mas que não se poderia invocá-la, honrá-la, nem prestar-lhe culto nenhum, pois isso usurparia a honra que só a Deus é devida.

Esta ideologia sobre Maria é estranha à fé da Igreja. Esta oração é do século III: “À vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus; não desprezeis as nossas súplicas nas nossas necessidades, mas livrai-nos de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita!

Uma das respostas de Deus ao repto da ideologia protestante foi conceder a Teresa de Jesus que experienciasse Maria, primeiro em sua casa e depois no Carmelo.

Teresa de Jesus é a encarnação viva de Maria que “cuida, com amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre perigos e angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bem-aventurada.” (LG 62).

A VIRGEM MARIA EM SUA FAMÍLIA

  • “A isto juntava-se o cuidado de minha mãe em fazer-nos rezar e tornar-nos devotos de Nossa Senhora” (V 1,1).
  • Ela integrará na sua vida este ensinamento de sua mãe. Quando perdeu a mãe foi “muito aflita junto de uma imagem de Nossa Senhora” e suplicou-lhe que “fosse ela a minha mãe” (V 1, 7).
  • Entregando-se à Virgem pode dar testemunho da sua ação maternal para com os que se acolhem ao seu regaço: «tenho consciência de que encontrei esta Virgem soberana logo que me encomendei a Ela» (V 1,7).
  • Reconhece que Maria a cativou para si (conf. V 1,7). A Virgem a fará regressar à profunda intimidade com Deus, para que seja de todo Sua.

INGRESSARÁ NA ORDEM DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA DO MONTE CARMELO

O Patriarca Santo Alberto ao dar a Regra de Vida aos eremitas latinos do Monte Carmelo pede que erijam um oratório no meio das celas e aí se reúnam todos os dias para a Santa Missa (n.14).

O amor e a devoção que estes eremitas professavam à Virgem Maria moveu-os a dedicar-lhe a sua primeira capela. Isto, na mentalidade feudal, significava que se estabeleciam laços de vassalagem espiritual: eles e tudo o que lhes pertencia seriam de Nossa Senhora, que seria Dona do local e dos seus moradores. Por sua vez, estes ficavam consagrados a Nossa Senhora, punham-se totalmente ao seu serviço e comprometiam-se a honrá-la, confiando que Ela os protegeria como a coisa sua.

A Terra Santa é a herança de Jesus: os eremitas latinos ao dedicar a capela à Sma. Virgem Maria fariam com que uma parte da Palestina pertencesse a Jesus e à sua Mãe. Desde então os carmelitas, ao fazer a profissão religiosa, comprometem-se a viver em “obséquio de Jesus e Maria”, o que significa amá-los, honrá-los e servi-los com total fidelidade, confiando que Jesus e Maria os protegerão como a coisa sua e tornarão possível a união com Deus Trindade, parcialmente nesta vida e plenamente na eternidade.

TERESA INTEGRARÁ A MARIOLOGIA DO CARMELO

Teresa de Jesus não escreverá nenhum tratado sobre a Virgem Maria, mas mencioná-la-á nos seus escritos. A partir deles poderíamos redigir a mariologia do Carmelo.

O aforismo medieval “O Carmelo é todo de Maria”, ver-se-á refletido nos seus escritos: As monjas são “filhas da Virgem”, os frades são “filhos da Virgem”, os conventos são “pombaizitos da Virgem”, os benfeitores “santos amigos da Virgem”

Animará a todos a servir a Virgem: “O agrado de nosso Senhor por qualquer serviço que se preste a Sua Mãe é grande” (F 10,5)

Realiza a Reforma com o desejo de que se guarde a Regra de Nossa Senhora com a perfeição com que começou. A Regra tenta transparentar a vida que levou a Virgem Maria.

O hábito apresenta a pertença à Ordem da Virgem Maria, mas também a exigência de transparentar as suas virtudes. Dirá às suas monjas: «Minhas filhas, pareçamo-nos nalguma coisa à grande humildade da Sacratíssima Virgem, cujo hábito trazemos. É uma afronta dizermos que somos suas freiras, pois, por muito que nos pareça que nos humilhamos, ficamos muito longe de ser filhas de tal Mãe e esposas de tal Esposo» (C 13,3).

TERESA INVOCARÁ MARIA COMO MÃE, PADROEIRA, IRMÃ

Maria é a Senhora do Carmelo. Tudo lhe pertence: as casas e os que nelas habitam. Estes consagram-se ao seu serviço. Nossa Senhora é o termo mais usado por Teresa ao referir-se a Maria, e a sua alegria é servi-la.  “Nós alegramo-nos por poder servir nalguma coisa Aquela que é nossa Mãe, Senhora e Padroeira (F 29, 23)

Maria é a padroeira da Ordem. Diria A. Bostio, “A Ordem descansa nas suas mãos. Ela preocupa-se com cada um dos seus membros como se fosse as pupilas dos seus olhos”.  A Ordem recebeu tantos benefícios da sua Padroeira que lhos agradece no dia 16 de julho, na comemoração solene a Ela dedicada. Perante tantos favores recebidos da Virgem, Madre Teresa indica às suas filhas que Ela é a sua protetora e que se regozijem de que o seja: “considerai quão excelsa deve ser esta Senhora e o grande benefício de a termos por padroeira” (M 3, 1, 3).

Maria é a bela Irmã da Ordem. Na tradição mariana da Ordem, Maria foi considerada Irmã, devido à sintonia na virgindade da sua vida com a dos carmelitas. Como Irmã mais velha Maria admitiu os carmelitas em sua casa para caminhar junto deles no seguimento do seu Filho, ajudando-os e reconfortando-os nas suas dificuldades e sofrimentos. Teresa escreverá às carmelitas descalças de Sevilha, “Saiam-se com honra, como filhas da Virgem e irmãs suas, nesta grande perseguição pois, se se ajudarem, o bom Jesus vos ajudará“ (Cta 31.1.1573).

Maria é a Virgem do Escapulário: na vida protege, da morte eterna salva e do purgatório livra. Da proteção do Santo Escapulário há milhares de testemunhos.

TERESA FARÁ SUAS AS CAUSAS DE MARIA

A Virgem Maria é invocada como Mãe da Igreja, Rainha da Paz, Auxílio dos Cristãos…, algumas nações pôr-se-ão sob a sua proteção.

Orando e animando a orar pelos defensores da Igreja, promoverá a pacificação das guerras de religião que ensanguentavam a Europa.

As orações de Teresa de Jesus e as que animará as suas monjas a fazer unir-se-ão à oração da Virgem Maria pela paz. Deste modo contribuirão para alcançar de Deus tão apreciado dom (cf. Cta. a D. Teotónio de Bragança 22.7. 1579).

Teresa participará na missão corredentora da Virgem, suplicando e ensinando a suplicar ao Pai pela paixão e morte de seu Filho, para alcançar de Deus a salvação eterna dos redimidos por Cristo.

Participará da maternidade espiritual de Maria sobre a Igreja. Suplicará e animará a que se suplique a Deus pelo aumento de novos filhos e filhas da Igreja. Em consequência, rezará para que os missionários sejam fortalecidos na missão e esta se torne fecunda, sendo a Boa Nova de Jesus Cristo acolhida por parte dos que são evangelizados. Recordemos que ela percorreu parte de Espanha fundando mosteiros para favorecer com a oração das monjas a evangelização da América.

ESPÍRITO SANTO PLASMA EM TERESA DE JESUS O ESPÍRITO DE MARIA

Os seus sentimentos, os seus interesses, os seus ideais são os mesmos da Virgem Maria: ajudar a Cristo na sua obra de redenção.

Assume o chamamento de Jesus de reconstruir espiritualmente a Ordem de Maria, através de fundações em que se viverá a Regra com todo o rigor. Levá-lo-á a cabo com interesse, solicitude, abnegação: nenhuma dificuldade conseguirá desanimá-la nem fazê-la abandonar essa missão.

Jesus lho agradecerá: «vi a Cristo que parecia receber-me com muito amor e me punha na cabeça uma coroa para me agradecer o que tinha feito por Sua Mãe» (V 36,24). Assim vemos que servir a Ordem é servir Maria.

Teresa, cheia do espírito de Maria, exercerá uma verdadeira maternidade espiritual para com monjas e frades, inclusive para com os leigos a quem o Espírito deu o mesmo carisma e para com outros benfeitores. Como Maria em Caná: «Fazei tudo o que Ele vos disser» (Jo 2,5), animará todos os seus filhos e filhas no seguimento de Jesus e no serviço à Igreja, para que assim cheguem ao cume mais alto da união com Deus Trindade.

INCULCAR-LHES-Á QUE SÃO FILHOS DA VIRGEM MARIA

Teresa de Jesus chama «minhas filhas» às suas monjas, mas tentará transmitir-lhes que em primeiro lugar são «filhas da Virgem».

Santa Teresa precede-nos a todos no Carmelo Teresiano, mas não podemos dizer que em Teresa esteja toda a pujança espiritual que viverá a sua descendência. Podemos, sim, afirmar que, da pujança do seu espírito, depois de profundas purificações, iniciam a sua caminhada os seus filhos e filhas. Vemo-lo em Teresa do Menino Jesus, em Isabel da Trindade, em Francisco Palau…

O manancial da altura espiritual de todos os carmelitas está na Virgem Santíssima: ninguém a superou em nenhuma dimensão da vida humana e espiritual. Ela a todos precede na união com Deus: com o seu testemunho, a sua ajuda e proteção contribui para que nesta vida nós, os carmelitas, cheguemos a viver a plenitude da graça batismal que é a vida trinitária. Por nosso lado, nós, carmelitas, somos na Igreja testemunhas da belíssima vida interior de Maria.

A ORDEM DO CARMO É A ORDEM DE MARIA

Santa Teresa ouviu no seu interior o Senhor que lhe dizia: “Em teus dias verás muito avançada a Ordem da Virgem” (CC 14). Jesus identifica a Ordem do Carmo como Ordem de Maria.

Anos mais tarde Santa Madalena de Pazzi terá uma visão que corroborará isto: «Via que todos os trilhos conduziam a um maravilhoso jardim. Uns terminavam numa fonte, outros numa árvore. Entendi que as ditas fontes e árvores eram os fundadores das Ordens religiosas, como Santo Agostinho, São Domingos, São Francisco… Via que o caminho por onde seguiam [os carmelitas] … era muito mais notável que os outros, mas não concluía em nenhuma daquelas árvores nem fontes, mas sim na Rainha e Senhora do jardim, que é a nossa Mãe, a Virgem Maria, sob cujo estandarte vivemos».

Os testemunhos de Santa Teresa de Jesus e de Santa Madalena de Pazzi, juntamente com o testemunho de carmelitas de todos os séculos, corroboram «que não se reconhece no Carmelo outro fundador ou padroeiro da Ordem, senão a própria Virgem Maria, aquela que presidiu à Capela primitiva do Wadi es-Siah [Monte Carmelo] e que com amável e profundo olhar foi formando e alimentando a sua Ordem na contemplação”.

OS CARMELITAS REFLETEM A BELEZA INTERIOR DE MARIA

Os carmelitas compreenderam que a fonte do mais puro amor à Santíssima Virgem, é o amor que Cristo tem para com a sua Mãe. Por isso, o carmelita procura que seja Cristo quem em si mesmo ame a Sua Mãe.

Jesus Cristo compraz-se em poder amar a Sua Mãe e em a servir através de cada um dos carmelitas e das carmelitas. Por isso, lhes deu como herança ser reflexo da belíssima vida interior da sua Mãe Santíssima.

  • Teresa de Jesus é um verdadeiro reflexo da maternidade espiritual da Virgem Santíssima para com todos os redimidos por Cristo.
  • São João da Cruz é reflexo do canto de Maria à beleza e formosura de Deus.
  • Santa Teresa do Menino Jesus é um reflexo da infância espiritual de Maria.
  • Isabel da Trindade ajuda-nos a vislumbrar a união e adoração de Maria à Sma. Trindade.

Por sua vez a Virgem Maria através dos carmelitas ajuda Jesus Cristo nos momentos mais difíceis da história da Igreja, para que a redenção de seu Filho seja fecunda. Teresa e João da Cruz fortalecem a Igreja perante a reforma protestante. Francisco Palau perante o liberalismo. Teresa do Menino Jesus perante a filosofia da morte de Deus. Isabel da Trindade na grave crise eclesial em França. Maravilhas de Jesus perante o ódio a Deus em Espanha. Edith Stein e Tito Brandsma perante o nazismo. Que serviço devo eu oferecer?

QUE NOS ENSINA TERESA DE JESUS SOBRE A VIRGEM MARIA?

  • Ser carmelita é amar a Virgem Maria com profundo amor filial, é honrá-la na liturgia, é invocá-la nas necessidades e ensinar que outros o façam, é trazer o escapulário, imitar as suas virtudes.
  • Ser carmelita é procurar a união com Deus Trindade, esvaziar-se de si mesmo, para deixar que o Espírito Santo derrame em nós o espírito de Maria.
  • Todo o filho e filha de Santa Teresa de Jesus, é chamado a viver a sua adesão à Santíssima Virgem Maria, de modo que seja Ela que em nós reedifique o Carmelo na caridade, na unidade e na verdade. Assim a Ordem cheia de vitalidade, contribuirá eficazmente na reedificação da Igreja e na pacificação da humanidade na justiça e na verdade.
  • Ser carmelita é assumir como nossas as causas que a Igreja e a sociedade encomendam à Virgem, como Rainha da Paz, Auxílio dos cristãos, Padroeira de tantos países; orando e trabalhando nessas causas ajudamo-la a levar a cabo a sua missão.
  • Ser carmelita é estar com Maria ao pé da Cruz para tornar fecunda a redenção de Cristo, sobretudo nos momentos mais críticos da História da Igreja e da humanidade.

 

Siglas das obras de Santa Teresa de Jesus:

  1. Caminho de Perfeição,

CAD Conceitos do Amor de Deus,

CC Contas de Consciência,

Cta. Cartas,

  1. Fundações,
  2. Moradas
  3. Livro da Vida.

 

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